Todo mundo me pergunta o por que fiquei nua numa peça de teatro em São Paulo ano passado.
Todo mundo me pergunta qual foi a sensação.
Todo mundo me pergunta o que eu ganhei com isso.
E quase todo mundo me chama de louca.
Enfim.

E porque esse post só agora? Depois de meses? Acredito que todos nós agimos devido a algum impulso. Eu nunca tive vontade de falar sobre esse momento INCRÍVEL da minha vida aqui no blog (engraçado né). Agi devido a um impulso imagético, vindo de um colega da faculdade que postou a foto no nosso maravilhoso Zé Celso no facebook. Recordei daquele dia, surgiu um sorriso no rosto e eu tive vontade de escrever.
Final de Outubro de 2011, São Paulo, Bairro do Bexiga, Teatro Oficina, Macumba Antropófaga.
Eu tinha ido assistir o mesmo espetáculo no começo do mês e por um motivo ou outro não me juntei a galera pelada que encerrava o primeiro ato da peça. Vi tudo do segundo andar daquelas arquibancadas do teatro. Aquela imagem linda lá em baixo, com um monte de gente pelada, fazendo parte daquele grande espetáculo e aquela energia gigantesca vindo de quem partcipava do ritual, subindo as escadas, arquibancadas e indo até as pessoas impossibilitadas de chegar até o "terreiro" e a aquelas que simplismente optaram por não participar. Resumindo, voltei com uma cruz preta no meio da testa (linguagem antropófaga, rs) e uma promessa: se eu voltar, eu tiro a roupa.
E daí que no final do mes eu voltei. Debaixo de uma chuva horrível e de um céu que predestinava o cancelamento da peça, voltei ao teatro oficina e naquele dia, tirei a roupa. É um ato muito maior do que simplismente tirar a roupa. E dificilmente alguém que não faz teatro ou que não tem essa paixão correndo pelas veias, vai entender o porque que eu (e mais alguns) ficamos nús perante uma multidão de gente dentro de um teatro. Primeiramente que a maioria das pessoas que estavam lá tinham no sangue esse fervor de que falo aqui (e se não tinham, até o final do espetáculo experimentaram um pouco,ou não). Segundo que o próprio espetáculo, em comemoração aos 50 anos do Teatro Oficina, pregava o Manifesto Antropófago de Oswald Andrade. Um dos grandes nomes da semana de 22, que se uniu com outros grandes nomes como Anita Malfatti e Mario de Andrade e juntos redescobriram o homem da modernidade brasileira. Oswald no seu intuito de redescobrir o homem, reinventar a arte, escreveu o Manifesto Antropófago, onde além de propor que nós somos bichos humanos iguais que "comemos a carne" do ser humano para absorver-mos dele sua inteligencia, disse: "O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido."
Diante dessa verdade (entendida perfeitamente por mim depois de muito estudo) , resolvi me livrar por um momento daquilo que me impedia de entrar em contato com o mundo exterior. Daquilo que me impedia de sentir aquela energia, daquele momento. Daquilo que me afastava da verdade.
É claro, óbvio que nem todos pensavam assim. Dificilmente mais de 100 cabeças dançariam com o mesmo ideal. Mas o que importa foi o MEU porque. E como graça ou bonus dionisíaco, fui escolhida para representar Portugal em uma cena onde o Pai de Santo, o Padre, o Pastor, o cabeça da casa, Zé Celso, representou, desejou, a união entre palestinos e israelenses (e me falha a memória o nome do país o qual era proposto uma pacificação com Portugal). Ainda com roupa, senti que fui agraciada naquele momento. Seguei nas mãos daquele grande homem de teatro, dancei e desejei com ele. E a partir dali não me importava mais o tal pudor que nasce e de certa forma morre com a gente, a partir daquele momento eu era um bicho humano IGUAL a todos os outros que ali comigo estavam.
O que eu senti naqueles 30 ou mais minutos é completamente difícil de traduzir. Tento juntar as sensações do que é ser escolhida para representar um país em cena, dançar em plena macumba com Zé Celso e ainda ficar nua, integrante de um manifesto e o resultado é um sorriso no rosto.
Estar ali, naquele teatro que fez história, que lutou por nós, teatrantes de hoje é uma sensação incrível. Fazer história com eles então, participando da gravação do DVD da peça, não tem preço. Por isso as sensações são multiplas e intraduzíveis. Eu estava me libertanto e entrando em contato com a verdade.
O que eu ganhei com isso? Sinceramente não me cabe responder aqui. Ninguém entenderia, ninguém. Apenas quem se livrou do seu pudor e entrou em contato com o "exterior" do ser humano é que sabe, é que sente. E não ligo realmente que me chamem de louca.
Eu os entendo e por isso não os critico.
Logicamente que todos tem a sua opinião. Vai ter gente que vai dizer que é loucura, que é jogada de marketing para vender ingresso, vai ter gente que vai dizer que é putaria. Deixe que digam, que pensem e que falem! O ser humano é um bicho questionador desde sempre.
O que importa (para mim) são os meus motivos, os meus valores e os meus por que's e ponto.
Só entende de verdade quem sente.
Até quem lê, estuda, analisa, não entende de verdade o sentido do que é "a reação contra o homem vestido". Como tudo na vida, a teoria só é comprovada com a pratica. Quem teoriza demais, nada sente.
Enfim. Acho que já me estendi demais em comentários e o restante do que vi, do que sei e do que senti, prefiro guardar comigo pro resto da minha vida.
Desejo essa liberdade pra todo e qualquer ser humano. Desejo que em algum momento de suas vidas o ser humano possa entrar em contato com essa verdade e que perceba que todos nós somos bichos humanos, iguais!
Boa noite.
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