domingo, 26 de agosto de 2012

Morrer um pouquinho todo dia...

_ Um dia eu acabo morrendo! - disse ela.
A menina anônima já morria um pouco por dia. Morria de alegria, morria de tristeza. Morria de sorrir, morria de chorar. Morria de sentir saudades, morria de sentir carinho. Morria de sono, de fome, de vontades variadas. Morria de todas as formas e jeitos, todos os dias. Ela resnacia pela manhã e a cada acontecimento ia morrendo, de leve aos poucos. De amor, de dor, de alegria e ódio. Morria. Ela tinha sua alma nas mãos e a mesma escorria por entre seus dedos.
_ E isso não te faz mal? - perguntou.
_ Já me acostumei. Todos os dias tomo a minha cruz e vou ao meu Gólgota me sacrificar pelos meus.
E realmente ela ia. Abria os olhos pela manhã, se olhava no espelho e ainda via a face de uma menina utópica. Que sonhava e queria demais. Raramente sorria. Quem sorri quando se é acordado quando o calo ainda está cantando? Mas sua alma sorria. Ela percebia que alguma coisa estava errada, abria a torneira e a água gelada que jogava em seu rosto, fazia com que ela colocasse seus delicados pés no chão. Bom dia garota! Bem vinda a sua realizade. Sua cruz está lá fora te esperando. Pegue-a quando for sair. E ela obedecia. Não imaginava outra sina pra si. Até porque o tal destino, nunca deu oportunidade pra que ela escolhesse. Isso seria luxo demais. Essa era sua rotina. Sua sina. Tomar a sua cruz e subir ao seu Gólgota. Ali sacrificava seus maiores sentimentos. Doava alguns para os seus. Permitia que a dor a tomasse, para que não tomasse o seu próximo.
_ Estou toda machucada, veja! - disse a menina e ao mesmo tempo mostrou suas feridas - Isso me cansa tanto. Eu já não aprendi bastante? Será que nunca vai chegar o momento em que tudo vai dar certo e ponto?
_ Pequena. Olhe para as suas feridas. Todas, todas elas são provas de que você passou por alguma dolorida lição. Não cabe a mim dizer se esse é o basta de todas as suas lamentações. Cabe a você dar esse basta e não se machucar mais. Pra que tantas feridas? Será que nunca vai chegar o momento em que você vai se cansar de cair no mesmo lugar?
Ela suspirou e com a cabeça consentiu.
_ Venha cá. Estenda seus braços. Eu tenho um mertilate eficaz pra cicatrizar de vez tuas feridas. Mas, tenha paciência. Mesmo que mertilade não arda mais, as feridas não se fecham de um dia pro outro. Você vai precisar confiar no tempo.
O anônimo pegou o algodão, espirrou o tal do mertiolate e na sua lenta ação, começou a tratar daqueles pequenos e profundos cortes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário