domingo, 3 de junho de 2012

Descobrindo a besta... salvando-a... desculpando-a....

De uns meses pra cá não entrei somente no processo de criação para a peça desse ano lá no Conservatório, mas comecei também um processo de investigação interior. Pois é, cedo ou tarde, chegariam esses dias em que eu colocaria um espelho na minha frente e descobrisse minha morbidez, meu ego inflamado, minhas mazelas, minha malária e etc. Mas nunca é fácil né? Dói. Incomoda.
Nelson Rodrigues é a grande porta pra esse mundo até então desconhecido dentro de mim. É assustador saber que tenho praticamente 20 anos de convivência comigo mesma e ver que não me conheço tanto assim. Aliás, até conheço, mas não sou capaz de admitir e aceitar os meus pequenos monstros interiores. "Freud-mente" falando: a aceitação do meu id.
Mas, ao mesmo tempo que me descubro, me decepciono e me surpreendo comigo mesma, ao mesmo tempo que exponho minhas chagas, também aprendo a cura-las. É como Pirandello diz em um de seus textos: "Descobrir a besta e depois salva-la, desculpa-la." O teatro rodrigueano abre a ferida e depois de um tempo oferece um mertiolate pra cicatrizar. Sim, cicatrizar. A cicatriz fica justamente para que eu me recorde de como já fui, como me curei e como sou agora.  Mas falta muito viu? Estou imersa nesse universo, quanto mais me afundo nessas águas cruéis, mais descubro sobre mim e consequentemente sobre o ser humano que não é tão bom assim.
Acredito que todos deveríamos passar por esse processo. Foi como ouvi esses dias atrás: "Ao invés de permanecer em briga constante com seus 'monstros', não o aceitando, temos é que abraçar essa deformação interior que existe dentro de nós e dar carinho a ela. Aceitar. Reconhecer que infelizmente temos esses grandes defeitos. Esse monstro escondido dentro de nós apenas está carente, devido a nossa falta de atenção, repudiando-o, insistindo em não reconhece-lo. Quando reconhecemos, quando damos carinho a esse monstrinho e dedicamos a ele um pouco de atenção, ele se acalma" É bem louco ouvir isso, mas é a pura verdade. Na maioria das vezes o defeito que te incomoda nos outros é aquele que pulsa dentro de você e você não reconhece. Eu estou "perdendo" um pouco do meu tempo e me dedicando aos meus monstros. É dificílimo! É um processo de todos os dias, você olhar no espelho e dizer: "Sim. Eu sou assim, sinto isso isso e isso", assustar-se consigo mesmo, reconhece-los e começar a tratar deles.

Nelson Rodrigues chega a ser melhor do que minha psicóloga na maioria das vezes.
Ele é cruel mesmo. Lendo-o, estudando seu teatro, é como se ele dissesse: "Minha filha, acredite, essa é você". Por isso que seu teatro, como ele próprio diz  é desagradável. Quem é que se sente bem em ver no palco as suas mazelas? Seu desejo contido? Seus monstros? Ninguém. Todo mundo quer expelir de si o perfume de sua alma e não odores fétidos de sua alma pestilenta. Mas o que eu preciso aprender, não só eu, mas você e todos nós, é que antes de exalarmos o perfume da rosa, temos é que nos limparmos do nosso mal odor e isso só acontece quando descobrimos a podridão, a reconhecemos, a aceitamos , a salvamos e a desculpamos.

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