Era como se ela estivesse parada e tudo girasse ao seu redor.
De repente as luzes se apagaram, e a unica que permaneceu foi aquela luz baixa, daquelas que deixa qualquer lugar em clima de louge. Pessoas começaram a surgir, e ela estava ali, parada com tudo girando ao seu redor.
Tal garota nunca foi de focalizar sua atenção em pernas, braços, cabelos, bunda, sorrisos, dinheiro, carro ou seja lá o que for de qualquer pessoa. Mas, algo sempre a chamou muita atenção: os olhos. Ela procurava por olhares diferentes, olhares que falassem por si só, mas ali, nada disso encontrou. Sentou-se distante, parou pra observar.
Parada e quieta, começou a notar certas distorções naquele ambiente, os transeuntes que por ali passavam tornaram-se manchas. Manchas coloridas, negras, umas rápidas outras absurdamente lentas. Um pouco antes, sua audição podia detectar ruídos de copos que se batiam, passos, conversas, risadas, cochichos... mas, sem que ela notasse, sua audição perdeu a sensibilidade e tudo se tornou um imenso e irritante barulho.
Sua boca começou a secar, as poucas salivas que por ali estavam se tornaram amargas. "Água, Água!" - sua mente gritou, mas por alguma razão, que nem ela mesma sabia o porque, ela estava atada de pé e mãos, intacta, inerente.
Seus olhos piscavam com mais frequência e com força, minutos depois até eles cansaram e permaneceram cerrados. Uma dor de cabeça começou a incomoda-la, mas ela ainda estava inércia. Precisava de ajuda.
Talvez, tudo não passasse de uma criação sua, "Você fantasia demais as coisas" - já dizia sua mãe, mas e daí?
Precisava de ajuda, precisava de remédio e não qualquer remédio comum. Aliás, era o comum que a deixou nesse estado. Eram aqueles olhares mesquinhos, toscos, fúteis, carregados de ambição e egoísmo que a deixavam inerente, olhares que nunca brilharam, mas que ofuscavam e escureciam ainda mais o ambiente. Disso, ela não precisava.
Nauseada.
Parecia que estava ali há horas. Precisava de um antídoto.
Sua cabeça girava e doía, seus olhos pouco viam, seus ouvidos quase nada ouviam, sua mente gritava junto com aquele barulho infernal, sua boca amarga transmitia a sensação que não bebia nada a dias.
Estava desistindo, remédio ali nenhum havia.
Seu suspiro de desistência foi forte, e sem hesitar, seus olhos se abriram e detectaram algo diferente: Um par de olhos que vinham lá de longe.
Olhar diferente, que brilhava, que mostrava certo cansaço, mas abundancia de felicidade. A qualquer pessoa normal, aqueles olhos seriam outros desses comuns, mas ela sabia observar, sabia que aqueles olhos não passar desapercebidos.
Cada vez mais próximos, a cada movimentação desse olhar era como se um sintoma de sua "náusea" deixasse de existir.
Um passo, tudo parou de girar
Outro passo, seus olhos outra vez voltaram a enxergar com nitidez
Mais um passo, sua audição era sensível outra vez
Mais outro, sua cabeça estranhamente parou de doer
Se viu dessa vez, desatada de pés e mãos. E aqueles olhos, os quais não sabia a quem pertencia, ainda chamavam a sua atenção e estavam perto, mas não o suficiente. Os dela em uma mesa, os dele em um balcão.
De que importa? "Aqueles olhos falam, vou responder-lhes." - disse a si mesma.
Bruscamente se levantou, qual seria a desculpa ideal para interrogar um olhar tão interessante? Bem, sua boca ainda estava amarga, ela precisava de água.
Talvez essa não fosse a desculpa ideal a qual ela buscava para se aproximar, mas era uma boa desculpa. Ela sabia que aquele olhar que foi o antídoto pra tantos sintomas, com certeza não iria deixar de ser também a água que sua boca iria beber. Ela poderia encontrar naquele par de olhos mais do que precisava, ou procurava. Mas aquele brilho pra ela bastava, a diferença desses olhos entre tantos outros, já saturava suas buscas.
O suspiro agora foi de alívio: "Ainda bem que nem tudo é igual"
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