quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Devida e orgulhosamente... desconstruída.

No começo é estranho. É desesperador.
Você não sabe o que fazer.
É ruim pra caramba, uma lamúria.
Aí depois de atirar pra todos os lados você opta pelo que "sabe" fazer.
E faz.
Junta todo tipo de ornamentação possível e faz a coisa acontecer. Se esconde por detrás disso tudo.
Tem medo da exposição, de dar a cara a tapa. Se poupa.

Depois a coisa agrava porque você tem um norte.
E você a todo custo quer acertar.
Aprende com os erros da vez anterior, mas ainda assim, não arrisca. Opta novamente pelo que "sabe" fazer. E faz.
Economiza na ornamentação e coloca seu dedo, sua marca, seu estilo pessoal.
Mas ainda se esconde por detrás de tudo isso.
Corre pra lá e pra cá atrás de coisas que te ajudem, que alimentem teu imaginário, mas estes só servem pra não deixar você se arriscar.
Tudo bem.
Tem tempo.

Aí, chega um momento que você quer ter voz no negócio.
Você cansa de representar a coisa tal qual é, e dentre centenas de palavras, você escolhe aquela que lhe representa. Ponto! Estamos começando a conversar. A se arriscar.
Mas ainda assim tudo é fulgás. Você quer ter voz, mas tem medo dela.
Você não dá tempo pra tudo acontecer, você não tem um cuidado com o instrumento que lhe dará a voz. Você quer que seja rápido e passe logo.

Nesse meio tempo, você começa a pensar em desistir.
Você acha que esse tipo de coisa não é pra você, que você não vai se adaptar e que é melhor deixar pra lá. Dá uma leve agonia. Bem no fundo um desejo de: "poxa, eu queria fazer isso."
Mas o medo impede muitas coisas né.
Te trava da cabeça aos pés.


Quarenta e cinco do segundo tempo.
Ou vai ou racha. Você tem em mãos um material que lhe agrada e resolve cavocar dentro dentro dele, algo que também seja o seu discurso. Nesse tempo, você já sente maturidade com os erros anteriores e de tão cansada deles você começa a ansiar por acertar. Acertar na escolha, nos detalhes.
Planeja e realiza tudo exatamente como planejou. Isso te liberta, te abre os olhos.
Eu criei tudo isso aí?
Surgem outras oportunidades. Você fica prestes a perder o cabaço do teu bloqueio.
Relaxa, respira fundo, fecha os olhos e se entrega. Se não, não encaixa.
Você descobre que tem um corpo. Seu corpo. Único.
Um corpo. Livre de qualquer leitura estereotipada.
Seu ventre queima, seu corpo treme. Passa pela sua mente uma hipótese de loucura e por fim, você se joga do abismo. E cai. Dançando.

O final é tão desesperador quanto o começo.
A diferença é que você já se jogou do abismo. Não tem como voltar atrás.
E aí você descobre uma penca de coisas. Descobre do quanto é capaz!
Descobre que o que você faz agora, pulsa no teu corpo, acelera tua respiração e aquece da cabeça aos pés. Te faz suar por dentro, te faz suar por fora.
Essa sensação te obriga a ampliar horizontes e te dá um bem preciosíssimo: autonomia.
Você tem um corpo e está aí tudo o que você precisa pra criar.
Você tem suas inquietações, sua vivência, seu imaginário. Crie.
Faça poesia. Pire o cabeção.
Dance.
Dance Thaís.
Reúna suas inquietações e deixe o seu corpo falar.
Falando do seu quintal você se torna universal.
E você faz.
Eu fiz.
Chamei o medo pra dançar comigo.
Criei algo meu.
Poesia na minha confusão.
Arte escorria no meu rosto, deixava-me quente, em brasa!


Nunca é fácil desconstruir o que foi moldado por tanto tempo.
É difícil abrir mão dos vícios, do conforto, da comodidade.
É tenebroso, olhar pra um abismo escuro e sentir pés e mãos gelados, sabendo que uma hora ou outra você vai ter que pular.
O pulo será sua libertação.
E foi a minha.
Gradual... respeituosa. Nada a força. Tudo em seu tempo.
O vulcão contido, se alastrou.
E continuará se alastrando.
Eu creio que depois disso tudo, nunca mais serei a mesma.
Coisas, muitas delas, transpassaram-se em mim.
Fui atingida por todas elas.
Foi doloroso.
Hoje me dá prazer.
Não me cega, mas me dá possibilidades.
Me dá um corpo. Meu corpo. Só meu. Único. Potente. Criador. Grande.
Ele basta.

Não.
Nunca pensei que diria isso.
Mas nunca estive tão orgulhosa por estar devidamente desconstruída.
Nunca celebrei tanto o processo que refina a pedra bruta e tira dela o que há de melhor.
Potencializa.
Não desmerece.
Eu posso ser quem eu quiser ser do jeito que eu quiser ser onde eu quiser ser.

Gratidão! Gratidão! Gratidão!
Por existir pessoas que deem a martelada certeira e desconstruam pra construir.

Me sinto grande.
Ampla.
Maior.
Livre.


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